quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ser adulto devia ter sido legal

        Quando pequena, fui muito ingênua. Fui traída por amigos que não tinham porque me trair, ouvi coisas ruins de pessoas que deviam me ajudar a superar essas coisas ruins, me apaixonei pelo menino que era apaixonado pela minha melhor amiga, fiz coisas sem me importar com o que pensariam os outros, pensei que ser adulto seria legal.
        Quando me lembro da infância, tenho a sensação de ter curtido pouco, de ter brincado pouco, de ter dito poucas verdades, de ter chorado pouco, de ter feito poucas pirraças, de ter sonhado pouco. De ter feito poucas bagunças, de ter me apaixonado poucas vezes... de ter me apaixonado.


        Hoje, adulto, me vejo perdida dentro do meu mundinho. Fui traída por pessoas que amei tanto, ouvi coisas ruins de pessoas piores que eu, me apaixonei loucamente por quem não merecia nem um sorriso meu, me importei demais com o que iam pensar de mim. Chorei demais quando devia agir, calei minhas verdades por medo de agredir, esqueci meus sonhos pelo caminho. De tantos que eram, os deixei partir. Me apaixonei tantas e diversas vezes pelas mesmas pessoas, por outras pessoas, por pessoas erradas. Tive a certeza de que ser criança era bem melhor!!

Como assim... flores para um dia bom??

        Sabe esses dias que você acorda, e não tem motivo nenhum para desejar bom dia pra ninguém. Mas você simplesmente se levanta com o maior sorriso que possui, ele realmente é sincero. Ele vem lá de dentro do seu coração. Você nem precisa desejar bom dia a ninguém. Seu sorriso já diz isso e muito mais a todos que têm o prazer de te ver despertar daquela que talvez tenha sido a noite de sono mais tranqüila que você teve nos últimos tempos. Parece que os anjos cantam quando você passa. Parece que todos sentem o cheiro de rosas que brota do chão por onde você pisa. Parece que todos são contagiados por esse sentimento de paz, e se sentem em paz também... por alguns longos instantes.
        Parece utopia, mas não é. Já vivi dias assim. Você também deve ter vivido, mas não deu importância às pequenas coisas que compõem esse dia perfeito. Porque ele é sutil. Tão sutil quando efêmero. Talvez seja assim tão efêmero para que saibamos dar a importância que lhe cabe! E nunca saberemos dar a importância que lhe cabe... nunca.
         Daí seu dia corre bem. Você não se atrasa. Você faz tudo que precisa fazer e ainda sobra tempo pra passar na casa daquele amigo que te trata como se fosse da família. A tarde chega, e quando passa o vento que acaricia seus cabelos, você percebe que seu paquera estava olhando exatamente na sua direção. A luz do sol deixa toda a rua numa cor meio laranja... e você sorri.
        Mas nem precisava de nada disso pro dia lhe parecer bom. Só de estar por ali, faria desse dia um dos melhores que você viveu! E é engraçado como você tem consciência disso. E pede pro dia demorar a acabar. Pede que no dia seguinte você não se esqueça. E agradece, à noite, aos anjos que lhe concederam aquele dia imensamente suscetível a tantas pequenas e importantes coisas.
        Quando você desperta, está tudo normal outra vez. Mas parece que alguém ouviu as suas preces e lhe permitiu lembrar do dia que vivera nas horas passadas. E você, se pudesse, daria um abraço naquele dia. Transformaria em alguém e daria uma jóia preciosa... mandaria flores para aquele dia bom!



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Prazer! Eu sou exatamente isso!

        Dia desses me vi sofrendo uma dor que não era minha. Contraí uma doença que não me pertencia. Era uma dor tão intensa, uma dor que parecia ser capaz de partir meu coração em dois, ou até em mais pedaços. 
        E isso começou sem eu nem perceber. Um belo dia eu acordei e me vi totalmente envolta nessas nuvens de sentimentos tão alucinantes. Me perdi dentro de mim, me encontrei e me perdi sem me encontrar outra vez por dias e dias. Quando me encontrei, já não era a mesma. Ou talvez eu não tenha me encontrado. Mas ao menos estou gostando do que tenho visto.
        De qualquer maneira, da mesma forma que essa patologia me arrebatou me deixando pelos cantos, ela se foi, sem se despedir e sem me perguntar se podia partir. Ela simplesmente foi. Ela surgiu não sei de onde, se alojou em mim não sei como, e doía não sei porque. Mas parou de doer. E meus suspiros de dor calaram-se.
        Foi aí que me senti como nunca outrora sentira-me. Senti um não-eu a me habitar. Alguém que eu não conhecia, que pensava por mim, falava por mim, agia por mim. Mas não sentia por mim. Simplesmente porque não sentia. Um ser frio e cálido. E ainda assim eu estava pelos cantos. 




        E eu não sabia se me doía mais o fato de estar curada, ou o pesar por estar curada. Me apeguei à essa doença e ela pareceu fazer parte de mim. Mas logo me veio a resposta certa. O que eu realmente temia era não estar livre dessa doença. Por que logo que me senti curada, uma dor voltou a me arrebatar, e me devolveu um ser que eu conhecia bem... era eu, de volta mais uma vez, com esses medos tais, essas caras tais, essas dores tais. Temia, não posso negar, mas mesmo assim fiquei feliz em ver que tão pouco mudei desde a última vez que me vi. Então, como já posso me reconhecer... Prazer! Eu sou exatamente isso que você vê!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que basta



        Vejo essas esperas desesperadas e essas ânsias por mais e sempre mais. Muitas vezes me entreguei a esses efêmeros e agressivos disparates, mas hoje suspiro meus suspiros cada vez mais em paz. Percebi que não se esperar pelo que se quer já é meio caminho andado para que o que se espera aconteça. Cheguei drasticamente à conclusão de que criar expectativas diminui as chances imensamente. E já me comprovei isso matematicamente. Por isso, mudei minha filosofia. Pois se meus planos não dão certo, ou murrarei esta ponta de faca, ou mudarei meus planos pura e simplesmente. Preferi a segunda opção.
        Sendo assim, passei a esperar menos.... na verdade continuei a querer o muito de sempre, mas a esperar o mínimo, e aceitar o que o outro estiver disposto a dar. Isso é mais sensato.
        Pouco, quase me basta. Cheguei a essa conclusão. Um beijo me basta, mesmo se este for aquele derradeiro da despedida. Um abraço, mesmo sem amor, se for aconchegante, me basta. Uma palavra de carinho me basta. Um carinho só me basta. Um olhar me basta. Uma palavra me basta. Não que o pouco me baste. Bem pelo contrário. Mas percebi que o sofrimento causado pela desilusão é maior. Então se posso escolher se sofro mais ou se sofro menos, escolho sofrer menos e permitir recuperar-me mais rapidamente. Pois sei que outras desilusões virão certamente, e terei que recebê-las, colocar a mesa do café e mandá-las embora antes de anoitecer. Enquanto elas não se vão, mantenho o sorriso mais verdadeiro e sofrido no rosto. Eles fingem crer que está tudo em ordem e eu finjo crer que vou ficar bem.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Folha em branco


        Sentei-me à mesa, à minha frente, uma folha em branco à espera de palavras que pudessem completar ao mesmo tempo seu vazio, e seu motivo de ser. Mas num segundo qualquer daquele longo período que passei fitando-a, percebi-me quase tão vazia quanto. De dentro de mim, estranhamente, não me brotavam palavras, não me borbulhavam idéias, não surgia nada além.
        Pela primeira vez, não quis escrever coisas que pudessem tirar-lhe dos meu pensamentos. Senti-me estranha por isso. Pois meu desejo íntimo era tirar-lhe dos meus pensamentos, compô-lo em presença física e abraçar-lhe da forma mais carinhosa que meu corpo fosse capaz. Se isso não fosse possível, esperaria então que pudesses partir logo que passasse o próximo trem, e se isso demorasse 5 minutos, ou 5 milênios, eu estaria ali a te fazer companhia.


        Mas esse sentimento de ausência me angustia profundamente. Temo por meu próprio bem. Pois já não sei se me tornei parte de ti, e me perdi de mim... e esse vazio seria então o que perdi do eu meu. Ou se te deixei partir, e me tornei um eu tão eu, mas outrora tão acostumado ao seu eu, que na ausência deste se sente como faltando alguma parte.
        Vasculhando bem, remexendo em todas essas feridas latentes e ao mesmo tempo amigas, percebi que a roseira deixou de ser roseira e tornou-se uma rosa só. Que a casa, que era tão grande, tornou-se um quarto só. Que o poema, o maior da estante, tornou-se um verso só. Que a doença, que antes feria, tornou-se um suspiro de alívio. E só. Mas daí, ficou esse vazio. É mais que um pedaço de alma retraído, é a ausência da alma por si só.
        E se me perguntares se estou feliz, não poderei lhe responder. Desculpe. Mas se me convidares para um passeio, aceitarei de bom grado. Parece que há um espaço aqui que quer ser ocupado, e quem o ocupava de fato, parece não mais estar lá. Não sei se por imposição do acaso, ou se por seus deveres e desdeveres, seu fardo. Só sei que não está mais lá. Pode ser que volte logo e pode ser que ainda esteja lá, se escondendo pelas frestas, desejando não me encontrar. Mas o que posso assegurar é que ainda sinto o cheiro que o vento me agracia sempre que por perto está.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Erros...

        Aos vinte e poucos anos admito que já cometi diversos erros. Mas nenhum tão grande a ponto de me fazer desistir de tentar. E nem tão pequenos a ponto de passarem despercebidos. 
        Já caí na rua, já me cortei brincando com faca, já me queimei com fósforo, já me joguei da estante querendo voar, já dancei como eu quis, já chorei na frente de quem não devia, já tive crise de riso quando não devia também.
        Já peguei o ônibus errado, já desci do ônibus antes do ponto, só por causa da ansiedade de chegar logo lá, já me perdi em lugares que jurava conhecer como a palma da minha mão, já me achei em lugares completamente desconhecidos. Já confiei em canalhas, já acreditei em juras falsas, já encontrei o príncipe encantado e pedi pra ele voltar depois. Já me arrependi, já chorei, já ri de mim.
        Cometi tantos e tantos erros, que já nem conto mais. Mas sinto no peito este espaço, este leito ainda à espera do novo que está por vir. Há em mim essa vontade de conhecer, essa coisa de pagar pra ver.
        Sempre que me lanço ao desconhecido vou sem armas ou guarda-costas. Vou com a cara e a coragem... o coração geralmente fica pelo caminho. Mas ele sempre me encontra um dia e acaba por voltar ao seu ninho.
        Mas esse espaço em meu peito me move, me faz querer mais. Sinto meu corpo cansado e meus pés já doem, mas minha paixão pela vida cura as feridas e sana as dores causadas por esses cães ferozes.

Não te peço muito


        O que te peço não é muito. Não tem porque me negar, então. Peço somente que me dê a mão quando for atravessar a rua, e que me segure quando eu tropeçar. Peço que me prenda quando eu quiser fugir, e que me liberte quando eu quiser ficar. Peço que me entenda quando eu confundir e que me explique quando eu acertar. Que me presenteie sem eu te pedir e que me abrace quando eu fraquejar. Que me aqueça quando eu sentir frio e no calor, me leve a um banho de mar.
        Quando eu chorar sem ter motivo, que me abrace e finja se importar. Quando eu chorar o mais triste motivo, me abrace do mesmo jeito e me permita morrer e ressuscitar. Quando eu quiser o impossível, fique do meu lado até a vontade passar. Quando eu sentir que não tenho mais força, me pegue em seus braços e leve sem pestanejar. Quando eu sentir um vazio, me mande flores e um cartão sem muitas palavras. Me dê um beijo sem esperar que eu corresponda. Me dê a mão sem esperar que eu a segure.
        Quando eu me tornar lúcida demais, me enlouqueça um pouco. Quando eu estiver louca demais, me leve para passear na beira da praia. Quando eu quiser sexo, me dê amor. Quando eu te der amor, me ame também. Quando chover, me chame para andar na chuva. Quando estiver sol, podemos dar um mergulho no rio. Quando eu sofrer, que você possa aliviar o que sinto com o aperto de um longo abraço. Quando eu sorrir, que você faça parte disso.
        Quando eu cantar, que você seja o maestro. Quando eu gritar, me abafe o grito no ato. Quando eu chorar que seja de felicidade e que você seja parte disso também. Quando eu pensar em ti, que estejas pensando em mim. Quando eu morrer, que me deixe partir, e me deixe viver para sempre do lado de dentro de ti.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Paixão não é amor.

Paixão é o que nos move. Amor é o que nos dá a força para continuar.
Paixão é fogo. Amor é lago.
Paixão é reviravolta de vendaval. Amor é brisa de praia.
Paixão é estrela cadente. Amor é pôr-do-sol.
Paixão é rock pauleira. Amor é bossa e samba de gafieira.
Paixão é egoísta. Amor é generoso.
Paixão é balada. Amor é cinema e bala.
Paixão é amasso. Amor é abraço.
Paixão é pranto. Amor é lágrima.
Paixão é momento feliz. Amor é felicidade.
Paixão é tempero do amor. Amor é amor e ponto.
Paixão é tropeço. Amor é mergulho. 
Paixão é doença. Amor é cura.
Paixão é orquestra. Amor é canto à capela.
Paixão é cena de filme. Amor é história de peça.
Paixão é sexo. Amor é amor.
Paixão é beco. Amor é estrada.
Paixão é sufoco. Amor é ar.
Paixão é quase uma escolha. Amor é condição.
Paixão é chiclete. Amor é bolha de sabão.
Paixão é entrelinhas. Amor é palavra e canção.
Paixão é cena. Amor é ato e peça.
Paixão é outdoor. Amor é carta escrita à mão.
Paixão é isso que vem e vai. Amor é isso que só vem e fica.
Paixão é incoerência. Amor é convergência.
Paixão é ser refém. Amor é ser cúmplice.
Paixão é rosa e roseira. Amor é árvore de jequitibá.
Paixão é vermelho sangue. Amor é o branco mais alvo que há.
Paixão é "Sonho de Uma Noite de Verão". Amor é "Romeu e Julieta"
Paixão é férias. Amor é plano de vida.
Paixão é morrer de morte matada. Amor é morrer de morte morrida.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Saudade

        Sabe essa coisa que neblina a mente e esmaga o coração?! Esse indesejado e constante suspiro, essa falta de ar e de chão. Tentaram definir com nomes, e isso até se chama saudade, mas acho que somente um nome não define essa indesejada. Isso que sinto lá no fundo do peito é mais que ausência acumulada. É uma ausência que corrói a alma. Quase uma crise de abstinência em estágio que mata.

        Sentimos saudades de coisas que vivemos, de pessoas que conhecemos, das pessoas que fomos um dia. Mas essa coisa que me fere a alma vai além... se refere a mim com um mero hospedeiro... e sente falta de não sei quê... de não sei quem. Sentir falta daquilo que não fui, daquele que não foi, do que não construí, de tudo que não vivi.

        Se permitido fosse, me livraria dessa tormenta. Libertaria minh'alma dessa coisa terrena, minha face desse dilúvio de lágrimas e minha vida dessa coisa pequena. Do coração puxaria tudo a que sinto falta e traria à vida o que a ausência me impõe dilema.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Rosa branca


Rosa leve leva o vento
Vento de sol, de raio, vida e dor
Vento que traz o sereno
Frio de cara, corpo sem pudor

Rosa branca tão serena
Traz a paz acalentada e cor
Faz no céu um brilho tão pequeno
Pingos de leite o azul de breu selou
Cor vermelha a rosa já emposta
Paixão serena cala frio e dor
Despe as pétalas pelo caminho
Despe de espinhos, o acalento, à flor

Despudorada rosa já sem canto
Dos espinhos já não tem favor
Vive morre vida sem sentido
Morre vive vida sem pudor
Morre aquilo que não faz sentido
Vive aquilo que lhe traz amor.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Essa tal chamada Paixão


        Imagino ser bastante tristonha essa vida de pessoas que dizem não se apaixonar. Das duas uma: ou se apaixonam e se negam à entrega deste devaneio, ou de fato não se apaixonam, não sentem esse palpitar sem ritmo contínuo no peito, não sentem essas borboletas valsando freneticamente no estômago, não sentem as órbitas desfocarem por instantes, não sentem o corpo tremer de raiva, de alegria, de ciúmes, de paixão.
        Eu, por outro lado, me entrego a todas essas paixões efêmeras. Me apaixono todos os dias, pelas mesmas pessoas, por outras pessoas, por coisas, por músicas, por poemas, por lugares, por ideais. Mas paixão é essa coisa que vem, se hospeda, e não diz quando se vai. E simplesmente, um dia se vai, sem dizer adeus ou quando vai voltar... ou se vai voltar. E deixa esse espaço vazio, esse pedaço de alma retraído.
        Pois eu amo essa coisa da paixão. Como se todos os poros do seu corpo sentissem sensações diferentes. Essa falta de ar intermitente, esse frio na espinha da gente. Como pode alguém se negar à paixão?
        Admito que a paixão também faz sofrer, mas veja bem: entregar-se a paixões, sendo elas saudáveis à todos que as cercam, só faz bem à alma, ao corpo, à mente... não digo coração porque este é o que mais maltratamos... principalmente quando nos envolvemos com essas coisas bobas de paixão... mas... Por que não? Quem nunca se enganou? Quem nunca se perdeu? Quem nunca disse nunca e fez tudo outra vez?


        Tudo que sei é que me entrego. Mergulho de cabeça, sem saber se encontrarei um belo lago, uma piscina ou uma poça. Tudo que sei é que poucas vezes me afoguei. Tudo que sei é que fico feliz por sobreviver a cada um desses saltos. Saio com marcas, algumas bem mais profundas que outras... Mas sempre saio de pé, com a cabeça erguida e com um sorriso nos lábios... principalmente quando a vontade é chorar.