segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A tristeza mais triste

        Ai, essas coisas de amor. Essas coisas mesquinhas e cegas que impedem a auto-percepção. Não mais me entregaria a esses devaneios. Não mais me jogaria nessa estrada sem sinais de alerta e sem freios. Mas acho que me perdi. Devia entrar na rua da tranqüilidade, mas entrei na rua errada... a da perdição inabalada. Ou talvez eu nunca tenha saído daqui.
        Mas preocupa-me a alma saber que já estive assim. Sei como começou e sei bem com termina, e pelo que me lembro, o ponto final da história foi uma lágrima, e essa lágrima foi minha.


        E esse “se” no meu peito. Essa certeza do erro e o desejo de estar errado.  Esse querer  que esteja tudo certo. Que esse seja o caminho correto. A carona que eu preciso pegar sem me importar com o lugar, já que perdido também cá estou. Mas me preocupa sim, me deixa no peito a tristeza mais triste que já senti... saber que esse “se” pode até ter duas histórias iniciais, mas o mesmo choroso e triste fim.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A invenção da verdade

        Uma vez me disseram que uma mentira repetida 1000 vezes se torna verdade. Então direi que me amas imensamente quantas vezes se fizer necessário. 
        Posso também fazer 1000 tsurus. Dizem que o milésimo lhe concede um pedido. Eu pediria para você me amar. Mas me amar assim como sou: descabelada pela manhã, desesperada ao longo do dia e, à noite, despida.


        Só preciso que você acredite nisso. Ora! Nem toda mentira é indesejada, e nem toda invenção, descabida. Afinal, todo mundo precisa de uma crença, e toda verdade, de uma mentira.

Veneno

        Quando percebi que já era alguém bem perto de ser eu, me vi sozinha. À beira do mar, acenando com um lenço de adeus. Esse barco que te leva, leva consigo o beijo, o abraço, a dor, a lágrima. Leva o desespero, o mar revolto, o céu nublado. Deixa o sossego, a brisa, o céu estrelado.
        Parece que levastes contigo todos os males que trouxestes também. Deixaste em meu peito um pouco de teu veneno, mas nada parecido ao que fora noutros tempos. Hoje, não me embriago mais de ti. Não bebo mais de tua dose diária. Não sofro mais com tuas derrotas e não cantarei mais suas vitórias como se fossem minhas. Hoje são todas banais.
        Sinceramente, espero que não voltes mais, e que deixe esse seu olhar que intimida, nos olhos de outras pessoas... em outros cais. Pois a saudade que fica morre um pouco...
... a cada aceno de despedida...
... a cada beijo...
... a cada olhar...
 ... a cada dose de veneno desses olhos tais.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Carta a um amigo

        Torço para que esta carta chegue veloz até suas carinhosas mãos e que possa logo ser lida por seu doce olhar. Pois em meu peito corre ligeiro essa imensa vontade de te agraciar com a mais verdadeira palavra e o mais sincero carinho que eu for capaz de dar.
        Desculpe-me pelas duras palavras. Os tapas que até hoje lhe dei foram bem mais pesados em minha face. Disso, certo pode estar. Sei que sou doce, mas às vezes posso ser amargo. Tudo que faço é tentar ponderar.
        Obrigada por admirar minha beleza, sobretudo aquela que só você vê. Obrigada por não odiar meus defeitos. Obrigada por não me odiara diante de tantos defeitos.
        Obrigada pela mensagem inesperada, pelo poema que fez pensando em mim, pela música que está a compor e por sua presença sem falhas. Um dia tentarei ser assim.


        Obrigada pelo lanche, pelo carinho, pelo abraço calado, por me aturar quando até eu queria fugir de mim. Obrigada por me deixar sentar no seu chão, dormir em sua cama e chorar no seu colo. Obrigada pela mão estendida, pelo olhar que precede a briga, pelo seu eterno olhar que acaricia muito além do corpo... liberta a alma e dá vida.
        Desculpe-me pelas falhas, os telefonemas não atendidos. A blusa que não devolvi e, algumas vezes, a falta de carinho. Mas vamos admitir! Aqui, falar de amor é habitar lugar comum. Com você habito o não-lugar. Esse espaço que criamos, onde a fala é suprimida... onde nós já nos sabemos pelo simples ato de olhar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Flagelados do coração



        Entendo que as coisas acontecem assim mesmo. Não sou uma exceção!  Não sou um corpo estranho, ou um estranho no meio dessa multidão. Faço parte da regra, me constituo como lei natural ou como as Leis de Platão. Estou no centro desse único conjunto, nem fora, nem dentro da intersecção.
        Faço parte desse imenso grupo de degredados. Filhos desabrigados do coração. Filhos abandonados, escorraçados, esmigalhados pela paixão. Somos filhos de um só pai, que nem se quer sabemos quem. Somos filhos dessa mãe, que nos deixou na roda, à espera de alguém. 
        Mas educação sei que recebi. Por mim, todos que passam, podem pisar e podem cuspir. Podem usar, abusar, brincar e ferir.  Abaixo a cabeça pra esses que me intimidam com olhares de águia, de perdição, de paixão, de mentira. Abaixo a cabeça, pois não posso encarar olhar tão penetrante com meu humilde olhar de lágrima, de tentação, resignação, olhar de menina.
        E nunca me esqueço que somos todos uns filhos da mãe! Somos filhos dessa mãe desregrada e sem coração. Que coloca no mundo seres que sofrem de tanta aflição. Seres que choram dores alheias e íntimas, se afogam em rios de lágrimas, secam cada vez mais seu coração. E morrem um pouco a cada sofrer de paixão.
        Mas agora é tempo de brincar, é a hora do recreio e quero aproveitar. Vou pular corda, cantar cantigas e brincar de roda. Vou aproveitar até o recreio findar... pois sei que jamais perderei essa feia mania de me apaixonar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sentimentos mesquinhos

        Queria eu ter o poder de saber quando foi que me tirastes de dentro de mim e me jogastes numa vala qualquer. Quando foi que deixei de ser eu e passei a ser seu escravo. Como e onde deixei minha alma partir para viver uma vida a qual não pertence, um amor o qual não possui.
        Hoje quando me olho no espelho, vejo somente uma sombra do que um dia fui capaz de ser. Sei que já fui bem mais do que esse monte de sentimentos confusos e sem adestramento. Talvez eu tenha sido a poderosa princesa dos sentimentos mais puros ou a meretriz dos desejos mais íntimos... hoje isso já não importa mais. Já que esses sentimentos calados e ao mesmo tempo tão gritantes me jogam no chão, me lançam em chamas tão mortíferas quanto podem ser.
        Dia desses, quando me vires chorar, não tenhas piedade deste que foi capaz de se abandonar em prol de sentimentos tão pequenos e mesquinhos. Não se comova! Todo sofrimento que sofro é merecido! Apenas me acaricie a face, como faria por qualquer cão sarnento, e me deixe partir, sem caminho, sem sapatos. Somente eu e meus pensamentos.

Estou bem!

        Ainda me incomoda quando me perguntas se estou feliz.... por muito tempo sei que vou responder "não... eu estou bem". Então não insista nesse caso perdido. Não queira saber por onde anda meu coração... porque também não sei. Descobri que meu coração é uma peça de leilão. Peça barata e popular... por qualquer preço se leva, se usa e se deixa abandonar. O que eu queria mesmo, era dar férias ao meu coração. Férias de 365 dias, passagem e ticket alimentação. Mas ele se agarra, se apega, faz isso muito bem e faz com satisfação.
        Esse meu coração errante não tem dono. Vive perdido batendo de porta em porta, sempre à venda, como biscoitos de escoteiros, ou abacaxis em caminhão. Custa tão barato... parece terreno baldio longe da civilização.
        Qualquer um que saiba cultivar uma florzinha já leva um latifúndio sem nem dar qualquer garantia de cultivo. Sem dar por ele nem mesmo um tostão.





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mar dos Olhos

        Sei que quando olhas em meus olhos mergulhas num mar sem fim. Perde-se ao sabor dos ventos. Encontra-se sem chão, sem barco, e cheio de tormentos.
        Meu olhos são mais do que mares abertos ao desconhecido devaneio do sentimento. São obscuras fendas que levam ao descontentamento.
        Tenho ciência de que vives laborioso trabalho de decifrar o que se esconde nesses olhos meus. Procuras em cada canto, cada parte, o que ainda há e o que se perdeu.
        Peço, então, que assim que descobrires, me retire da tormenta. Me diga o que se esconde por de trás dessa camada de expessa nuvem. Me retire desse mar que me banha e me arrebenta.