domingo, 20 de fevereiro de 2011

Flagelados do coração



        Entendo que as coisas acontecem assim mesmo. Não sou uma exceção!  Não sou um corpo estranho, ou um estranho no meio dessa multidão. Faço parte da regra, me constituo como lei natural ou como as Leis de Platão. Estou no centro desse único conjunto, nem fora, nem dentro da intersecção.
        Faço parte desse imenso grupo de degredados. Filhos desabrigados do coração. Filhos abandonados, escorraçados, esmigalhados pela paixão. Somos filhos de um só pai, que nem se quer sabemos quem. Somos filhos dessa mãe, que nos deixou na roda, à espera de alguém. 
        Mas educação sei que recebi. Por mim, todos que passam, podem pisar e podem cuspir. Podem usar, abusar, brincar e ferir.  Abaixo a cabeça pra esses que me intimidam com olhares de águia, de perdição, de paixão, de mentira. Abaixo a cabeça, pois não posso encarar olhar tão penetrante com meu humilde olhar de lágrima, de tentação, resignação, olhar de menina.
        E nunca me esqueço que somos todos uns filhos da mãe! Somos filhos dessa mãe desregrada e sem coração. Que coloca no mundo seres que sofrem de tanta aflição. Seres que choram dores alheias e íntimas, se afogam em rios de lágrimas, secam cada vez mais seu coração. E morrem um pouco a cada sofrer de paixão.
        Mas agora é tempo de brincar, é a hora do recreio e quero aproveitar. Vou pular corda, cantar cantigas e brincar de roda. Vou aproveitar até o recreio findar... pois sei que jamais perderei essa feia mania de me apaixonar.

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