quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Folha em branco


        Sentei-me à mesa, à minha frente, uma folha em branco à espera de palavras que pudessem completar ao mesmo tempo seu vazio, e seu motivo de ser. Mas num segundo qualquer daquele longo período que passei fitando-a, percebi-me quase tão vazia quanto. De dentro de mim, estranhamente, não me brotavam palavras, não me borbulhavam idéias, não surgia nada além.
        Pela primeira vez, não quis escrever coisas que pudessem tirar-lhe dos meu pensamentos. Senti-me estranha por isso. Pois meu desejo íntimo era tirar-lhe dos meus pensamentos, compô-lo em presença física e abraçar-lhe da forma mais carinhosa que meu corpo fosse capaz. Se isso não fosse possível, esperaria então que pudesses partir logo que passasse o próximo trem, e se isso demorasse 5 minutos, ou 5 milênios, eu estaria ali a te fazer companhia.


        Mas esse sentimento de ausência me angustia profundamente. Temo por meu próprio bem. Pois já não sei se me tornei parte de ti, e me perdi de mim... e esse vazio seria então o que perdi do eu meu. Ou se te deixei partir, e me tornei um eu tão eu, mas outrora tão acostumado ao seu eu, que na ausência deste se sente como faltando alguma parte.
        Vasculhando bem, remexendo em todas essas feridas latentes e ao mesmo tempo amigas, percebi que a roseira deixou de ser roseira e tornou-se uma rosa só. Que a casa, que era tão grande, tornou-se um quarto só. Que o poema, o maior da estante, tornou-se um verso só. Que a doença, que antes feria, tornou-se um suspiro de alívio. E só. Mas daí, ficou esse vazio. É mais que um pedaço de alma retraído, é a ausência da alma por si só.
        E se me perguntares se estou feliz, não poderei lhe responder. Desculpe. Mas se me convidares para um passeio, aceitarei de bom grado. Parece que há um espaço aqui que quer ser ocupado, e quem o ocupava de fato, parece não mais estar lá. Não sei se por imposição do acaso, ou se por seus deveres e desdeveres, seu fardo. Só sei que não está mais lá. Pode ser que volte logo e pode ser que ainda esteja lá, se escondendo pelas frestas, desejando não me encontrar. Mas o que posso assegurar é que ainda sinto o cheiro que o vento me agracia sempre que por perto está.

2 comentários:

  1. Sentimentos à flor da pele. É o que eu poderia dizer de cada post seu. Fico feliz que tenha divulgado o blog enfim. (:

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  2. Sú... nem tudo que se escreve é o que se sente... E esse é o bom de escrever!! Vc pode se colocar no lugar de várias pessoas... e pode escrever o que quiser. Ninguém vai saber se é o seu coração que diz aquilo, ou se é o de outros.

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