Quero ver ser poeta! Poeta de cidades cinzas. De sentimentos
pobres e cantar sem melodia. Quero ver sobreviver com graça entre os infinitos
arranha-céus ao longo dessa estrada. E lembrar-se da música preferida, e dançar
sem vergonha e sem preguiça.
Quero ver brotar poesia do caminhar das pessoas à beira das
vias. E que borbulhem prosas e versos das gélidas paredes cinzas, e da escuridão
dos viadutos, das esquinas, das mercearias. Que não seja doloroso, ato infame
de se desejar o belo. Que não seja desesperado, infame dobrado de desejar o
singelo.
E que em um suspiro agonizante, possa arrancar das brechas
das portas, de todas as portas, das brechas, das fendas, dos buracos e frestas,
de toda e qualquer ideia que tenha por bem expandir-se na dor. Que se arranque
a última gota de poesia. Que faça brotar a primeira gota de amor.
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